
Os actores, incluindo Julianna Margulies, Chris Noth, Christine Baranski, Josh Charles e Archie Panjabi, são todos de primeira linha, o que nos garante o mais importante de tudo: um bom entendimento das várias dimensões de cada personagem e, depois, uma boa interpretação das respectivas emoções. A produção é de monta, com dedo dos irmãos Ridley e Tony Scott. A realização é clássica, mas segura. E os diálogos são fortes, mas ainda assim humanos.
De resto, este é um feminismo inteligente, o que é precisamente aquilo que raras temos encontrado nos sucessivos esforços da TV para trazer até nós (ou deveria eu dizer: “para explorar comercialmente”?) a condição feminina e os seus dilemas no século XXI.
Alicia Florrick foi durante anos “a parva”: tinha um futuro brilhante como advogada, mas abandonou-o para cuidar dos filhos e do marido – e, quando foi a ver, este era, afinal, um político corrupto e infiel. Ao decidir refazer a carreira (alô, Hillary Clinton), porém, não está disposta simplesmente a dar uma volta de 180º graus: quer mudar o rumo das coisas, mas nem por isso perder a virtude, o que está muito mais próximo dos 360º graus – e, de resto, é um pequeno oásis no afã deste novo e agressivo mundo a que estupidamente decidimos chamar “das gajas”.
CRÍTICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 17 de Setembro de 2010