A avaliar pela primeira edição (escrevo antes da segunda), Gato Fedorento-Esmiúça Os Sufrágios, que arrancou segunda-feira na SIC, é um bom programa de televisão. A questão é que podia ser excelente. E, se não o é, a responsabilidade, para já, cabe a Ricardo Araújo Pereira, o primeiro apresentador.
Se fazer televisão exige uma boa dose de irresponsabilidade, fazer televisão em directo (ou live on tape) exige duas. Ora, Ricardo não tem essa ferramenta. É demasiado inteligente e tem uma agenda demasiado ambiciosa para isso: para correr de peito aberto o risco de dizer uma asneira no meio de uma série de tiradas brilhantes.
Portanto, concentra-se no guião. E a questão é que, quando se cola um programa de TV ao modelo Daily Show, é essencial que o pivô seja, como Jon Stewart é, capaz de rasgar em direcções inusitadas, correndo o risco de uma má piada (mas ousando tentar a boa).
O primeiro Gato Fedorento-Esmiúça Os Sufrágios foi um quase-quase. Era o programa de estreia – e até o nosso “quarteto fantástico” tem direito ao nervoso da estreia. Mas foi José Sócrates quem, muitíssimo bem “briefado” sobre o que devia esperar e como podia dominar o programa, mais brilhou.
Veremos como correm as próximas edições. Para já, Esmiúça parece uma bela oportunidade para os restantes três elementos do grupo (que apresentarão o programa cada um durante uma semana) recuperarem algum do protagonismo perdido para Ricardo. É a equipa que ganha com isso.
CRÍTICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 16 de Setembro de 2009