
Sabiam que as câmaras estavam presentes, sim. Imaginavam que, lá em casa, pelo menos algumas pessoas seguiriam as suas tontices. Mas não podiam supor que o programa houvesse entretanto tomado de assalto a actualidade – e, quando se punham aos abraços ou aos pontapés, aos beijos ou aos coitos silenciosos sob os edredões, faziam-no porque as suas emoções os impeliam a isso, não porque percebessem o alcance (e sobretudo as vantagens estratégicas) desses gestos.
Recuperar o Big Brother, por esta altura, tem seguramente alguma coisa de vintage. Para o bem e para o mal (sobretudo para o mal), aquele foi, provavelmente, o mais importante programa da televisão nos últimos vinte ou trinta anos – uma revolução que mudou quase tudo e que ainda hoje produz significativos efeitos. Mas recuperá-lo com novas personagens, sobretudo sabendo essas personagens o que puderam perceber entretanto, será como ouvir música dos anos 80 feita nos dias de hoje.
Soará a falso, o novo Big Brother da TVI (e chame-se ele Big Brother, Secret Story ou o que seja). Como objecto de estudo sociológico, valerá pouco mais do que zero. E, ao mesmo tempo, será muito mais inofensivo.
CRÓNICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 15 de Agosto de 2010