
Os meios alocados pela RTP para a cobertura da 72º Volta a Portugal, que hoje começa em Viseu, são pouco menos do que impressionantes. Para além de uma centena de profissionais, as 60 horas de emissão previstas para estes onze dias envolverão três carros de exteriores, quatro motos equipadas (três com câmara e uma de som), um helicóptero e, até, um avião. Pode perguntar-se, claro, o que se anda, afinal, a fazer com “o nosso dinheiro” na Marechal Gomes da Costa. Mas o facto é que ganha a Volta, apesar de tudo o maior evento desportivo realizado este ano em solo nacional.
O único problema é que, como ainda ontem dizia Manuel Tavares n’O Jogo, não é possível conseguir um êxito retumbante em Portugal, nos domínios do desporto e dos seus eventos, sem a presença dos três principais clubes nacionais. É esse o problema do ciclismo nacional, muito mais até do que as permanentes denúncias em torno da utilização de doping na modalidade (o que, aliás, é um problema global, não só português). Se Benfica, FC Porto e Sporting tivessem equipas presentes na Volta, como tiveram no passado, a paixão estava garantida (e, com ela, as audiências). Assim, o mercado não supera nunca o estatuto de nicho.
O futuro do desporto, está mais do que provado, passa, em grande parte, pela sua relação com a televisão. Todas as modalidades, para além do futebol (e, aliás, incluindo o futebol), precisam de ser capazes de vender-se no pequeno ecrã. A paixão do desporto é certamente uma ferramenta, mas ainda assim menor. O fervor clubístico, sim, fará sempre a diferença. E onde haverá, em Portugal, fervor clubístico de massas para além de Benfica, FC Porto e Sporting?
CRÓNICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 4 de Agosto de 2010