
Já aqui havia avisado para a necessidade de se encontrar um novo modelo para a publicidade televisiva, agora que a smart TV está aí para ficar. Pois a experiência actualmente em curso no programa John King, USA, da CNN, é uma primeira pista (provavelmente até mais do que isso) para encontrá-lo. Há cerca de mês e meio que o formato ocupa os finais de tarde da estação norte-americana – e há exactamente outro tanto que testa aquilo a que se chama agora program placement.
No essencial, trata-se de uma diametral inversão de papéis entre a programação e a publicidade. Se até aqui os anúncios ocupavam o espaço entre programas (mais os intervalos de cada um deles), agora é um programa a adaptar-se aos anúncios, continuando a ser exibido numa janela pop-out enquanto estes são mostrados numa janela principal. Não é confortável, nem sequer bonito. Mas o mais provável é que esteja aí para ficar.
O problema que se punha era o do efectivo visionamento dos spots publicitários por parte dos telespectadores, cada vez mais habituados a gravar os programas que queriam ver e a carregar no botão de fast forward no instante em que aparecia um anúncio. E a solução mais óbvia parecia ser a incrustação de publicidade nos próprios programas, através de rodapés, oráculos e/ou orelhas.
Pois o novo modelo vai além disso, sobrepondo claramente os reclames aos programas. Queriam um sinal da crescente importância da publicidade em sede de luta pela sobrevivência da televisão, nestes tempos de depressão económica? Ei-lo aí. E o melhor é habituarmo-nos a ele: depois de aberto o precedente, raramente a TV tem conseguido inverter as concessões que faz.
CRÓNICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 10 de Maio de 2010