
Na verdade, a gaffe de Ricardo Rodrigues é um alerta para todas as figuras públicas, inclusive de âmbito político (precisamente aquelas que, às vezes, mais demoram a aperceber-se da marcha do tempo). Uma entrevista, hoje, não é apenas uma entrevista. Os repórteres sabem que não pode sê-lo – e estão atentos. Entretanto, os editores pedem-lhes que tragam mais, incluído a narração das hesitações e dos risos, as fotos de bastidores e até imagens em vídeo para complementar o trabalho no site da publicação. E a uma figura pública só resta uma de duas coisas: ou ser natural em todos os seus gestos, na certeza de que não tem o que quer que seja a esconder; ou ponderar cada palavra, cada movimento e cada olhar, na certeza de que, tendo alguma coisa a esconder, ela facilmente será captada pela diversidade de técnicas e de meios que o repórter tem à sua disposição.
Talvez tudo isto seja irónico e cruel. Mas é suposto que os nossos servidores públicos não tenham perguntas tabu – ou não será?
CRÓNICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 8 de Maio de 2010