
Mas não deixa de ser curioso que, na hora de justificar a suposta irresponsabilidade da filha de nove anos, a quem atribui a mentira (sic) que levou o casal à detenção, Amélia Alvéolos se tenha desculpado com a TV. Disse ela: “O grande mal é a minha filha ser muito faladora. Vê coisas na televisão que até não devia ver, mas a gente não vai desligar o aparelho só por causa deles.” E, portanto, não pode nunca ser completamente isentada de culpas. Dois pontos muito importantes (e sejam ou não verdade as alegações de Amélia): a televisão tem efectivamente muitas coisas que as crianças não deviam ver; e cabe aos pais fazer a devida filtragem, não aos operadores de TV.
A televisão é um meio maravilhoso e democrático, que permite aos mais pobres o acesso a entretenimento e a lazer de uma qualidade que sem ele não teriam. Mas é também um meio “demasiado maravilhoso” e “demasiado democrático” para que as famílias disfuncionais (ou quaisquer outras famílias, aliás) possam entregar-lhe a educação dos filhos. A verdade é redonda, mas conserva toda a acuidade – e, de vez em quando, é preciso recordá-la.
CRÓNICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 2 de Maio de 2010