
Da mesma forma, não há um defeito comum à ficção portuguesa que Cidade Despida não reitere. O overacting chega a ser comovente (Catarina Furtado é trágica, mas Pepê Rapazote, um dos vilões do primeiro episódio, não lhe fica atrás), os diálogos surgem completamente desprovidos de oralidade, as cenas de acção são patéticas e a intriga desvenda-se de forma completamente abrupta. Tenho muita curiosidade, aliás, em ver como vão os argumentistas alimentar uma série de episódios depois de terem aviado um serial killer logo no primeiro – ainda por cima numa cidade como Lisboa, em que raramente se ouve sequer uma sirene.
Por outro lado, e sendo uma má série de televisão – no fundo, um produto especialmente modesto no domínio do policial –, Cidade Despida é também um pequeno passo em frente nos domínios da ficção nacional, onde não se tem feito outra coisa senão telenovelas chorosas e séries delicodoces para “entretenimento familiar”. Enquanto se mantiver circunscrita ao mercado nacional, na verdade, é inofensiva. O problema é que Catarina, conhecendo-a nós todos como a conhecemos, já deve estar cheia de sonhos de Hollywood.
CRÍTICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 25 de Abril de 2010