O que me separa de Passos Coelho é talvez ser açoriano e saber, por experiência, que o serviço público é um conceito legítimo e necessário. Nos Açores, a televisão regional foi tão essencial para evidenciar uma identidade comum às várias ilhas como, em consequência, para solidificar uma autonomia política. Da mesma forma, a existência de televisão pública nacional permite corrigir assimetrias, garantir serviços mínimos aos mais carenciados e, de resto, veicular importante informação institucional. Em minha opinião, a RTP 2 deve continuar pública; a RTPN deve ser fundida nela; a RTP Memória não faz sentido; só deve existir um canal internacional; urge serem relançados os canais regionais da Madeira e dos Açores (este segundo em estertor de morte); e a RTP1, sim, deve ser privatizada.
O problema é que nada disto vai acontecer nesta geração – e que Pedro Passos Coelho, se um dia chegar ao poder, mudará de opinião (primeiro ligeiramente, depois em definitivo). Vai uma aposta?
CRÓNICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 22 de Abril de 2010