
Em 2000, quando se tornou no primeiro mayor eleito de Londres, Ken Livingstone começou assim o seu discurso: “Como eu estava a dizer há 14 anos, altura em que fui tão rudemente interrompido…” Presidente do Greater London Council até 1986, ano em que o órgão foi extinto contra a sua vontade, Livingstone vivera contrariado durante década e meia. Mas nem por isso alardeara o seu ressentimento: simplesmente calara-se, até que a História o reencontrasse.
Em muitos aspectos, e apesar da popularização promovida pela “Terceira Via”, a política partidária britânica manteve-se até ontem assim, elegante e circunspecta. Para escândalos, já havia a família real. Quanto aos partidos e à Casa dos Comuns, a TV esteve sempre presente, claro – e Blair é a mais cabal prova disso. Mas debates, não havia – e, portanto, nunca fora ela a ditar tão claramente as regras como a partir de agora.
Esta nova era significa, naturalmente, um reconhecimento da reiterada importância da televisão. Mas também que, a partir de agora, e como dizia em 1964 Alec Douglas-Home, pode efectivamente ser o melhor actor a ganhar as eleições. Nada a que a restante Humanidade não esteja já habituada, apesar de tudo.
CRÓNICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 16 de Abril de 2010