
Jorge Gabriel, que é de facto o mais polivalente dos actuais profissionais da RTP, faz o que pode. O cenário, embora talvez excessivamente colado àquilo que se tornou regra nos concursos de horário nobre, também não destoa. Tudo o mais, porém, é realização. Os planos são óptimos – e a possibilidade de recurso à imagem rotation 3D, tipo Matrix, formidável. A sonoplastia é cuidada – e a ideia de destacar os suspiros dos concorrentes dentro do cubo, género filme de suspense, muito boa.
O problema é que se trata de um programa sem pessoas. Mesmo os concorrentes mais carismáticos (como se esforçou por mostrar-se o segundo participante da edição de domingo passado, um professor de inglês com sotaque algarvio) acabarão sempre esmagados pelas máquinas. E, como nos mostra a nossa já longuíssima tradição de concursos de primetime, os espectadores gostam de programas com gente dentro – gente com quem possa solidarizar-se ou divertir-se, enternecer-se ou mesmo ressentir-se.
Tecnicamente inovador, O Cubo nunca seria um desperdício: é uma experiência com que a RTP fica. Urge, no entanto, encontrar melhor utilidade para essa tecnologia. Por aqui é que não é.
CRÓNICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 14 de Abril de 2010