A realização é irrepreensível, a fotografia magnífica e os actores excelentes. O genérico é belíssimo, a banda sonora rigorosa e os diálogos fulminantes. Então, porque é que The Pacific vai ser uma longa chatice? Precisamente porque é perfeita. Ou perfeitinha.
A avaliar pelo primeiro episódio, a nova produção de Steven Spielberg e Tom Hanks (AXN), será sobretudo a transposição para a televisão de tudo aquilo que já vimos no cinema: a camaradagem de Pearl Harbour, o desembarque de O Resgate do Soldado Ryan, a contemplação atónita de A Barreira Invisível e mesmo a humanização do inimigo de Cartas de Iwo Jima, para citar apenas alguns exemplos temáticos (e retirados em exclusivo de filmes recentes sobre a II Guerra Mundial).
Se alguma coisa distingue The Pacific daquilo de que é sucedâneo, na verdade, é a sua insistência na literatura. E, porém, é talvez nisso que a série mais claramente falha. Porque o centro de consciência da narrativa são aquelas personagens naquele momento – e fazê-las percorrer tão depressa grandes autores e grandes citações a pretexto do que estão a viver é antecipar-lhes de forma brutal uma sabedoria que só o tempo e a memória lhes trarão.
É boa televisão? Sim e não. Por um lado, uma produção desta qualidade, tecnicamente tão evoluída, engrandece o meio. Por outro, o futuro da ficção televisiva não passará pelos blockbusters, mas pelos pequenos projectos, mais ou menos experimentais, capazes de abrir novos caminhos ao género.
Pois The Pacific consagra tradições, mas simplesmente não abre um único novo caminho. Aliás: em que é ela é diferente de Band of Brothers, afinal?
CRÍTICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 19 de Março de 2010