Tem toda a razão, o deputado Paulo Pisco: tanto a RTP Internacional como a RTP África estão ultrapassadas. A RTP Internacional, a RTP África e, aliás, a RTP Açores e a RTP Madeira. Há décadas que se convencionou que seriam assim, como são – e, quando alguém tentou que fossem de outra maneira, já não havia na casa gente, know how ou sequer paciência para mover a montanha. Resultado: esgotadas de recursos, são hoje todas, de alguma forma, uma janelinha para um certo Portugal antigo, dialogando pouco com este tempo e menos ainda com o público a que se destinam.
E o problema está na RTP1. Queira-se ou não, qualquer debate sobre o serviço público de TV terá necessariamente de ir dar a ele. É ele que enferma do equívoco original da auto-sustentação (de resto nunca conseguida) – e é ele que, sorvendo persistentemente todos os recursos da estação, verdadeiramente a afunda no pântano em tempos de crise publicitária. Tanto quanto parece a quem quer que se preocupe com este universo, a RTP deveria ter hoje cinco canais apenas: a RTP2 (incorporando o melhor da RTPN), os dois canais regionais, um só canal internacional e a RTP Memória.
Igualmente desprovida de recursos, a RTPN não se distingue o suficiente da concorrência privada. Já a RTP África simplesmente não tem sentido: a TV portuguesa não deve sentir obrigações de serviço público para com África. E todos os canais seriam francamente melhores com o dinheiro poupado com a privatização da RTP1. Eis a mudança que toda a gente sabe ser a mais sensata – e eis aquilo que levaria os portugueses a pagarem a RTP com outra bonomia. Mas quem terá algum dia coragem para atacar este problema?
CRÓNICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 8 de Janeiro de 2010