Como qualquer outra estrela de uma temporada, Ídolos tem-nos trazido coisas boas e coisas más. Uma das coisas boas são os concorrentes: um belíssimo grupo de vozes e de carismas, de cujo casting a produção pode orgulhar-se. Outra é o interessante debate entre Manuel Moura dos Santos, Pedro Boucherie Mendes e Laurent Filipe sobre o que é (e o que deve ser) uma pop star do século XXI. E outra ainda é a capacidade de conquistar público com um mote apesar de tudo nobre (o talento musical), provando que estavam errados todos os que, como eu, julgavam que nem havia mais talentos por descobrir nem, aliás, interesse dos telespectadores nesses talentos.
No pólo oposto, estão os apresentadores, ambos fracos. Está William “King Of Love” Bulas, o concorrente fracassado feito repórter de circunstância, que de facto não tem piada nenhuma. Está Roberta Medina, que é linda, mas não sabe o que dizer. E está, sobretudo (e passe a embirração pessoal), a consagração definitiva dessa mania de chamar “uma música” a uma canção. Mas um poema é “uma poesia”? Um quadro é “uma pintura”? Uma casa é “uma arquitectura”? Então uma canção também não é “uma música”. Tanto quanto me parece, chamar “uma música” a cada canção interpretada é tão mau como chamar “um júri” a um jurado – e o facto é que erro está longe de ser cometido apenas pelos jovens concorrentes, sendo-o mil vezes repetido pelos apresentadores, pelos jurados e por quem mais intervenha no programa.
Continuemos assim e não precisaremos apenas de um acordo ortográfico, para disciplinar esta língua a que Pessoa chamou “pátria”: precisaremos de um acordo semântico também.
CRÓNICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 6 de Janeiro de 2010