A saída de José Eduardo Moniz da TVI não é a notícia mais importante do ano para a televisão portuguesa: é a notícia mais importante da década. E o problema é que, independentemente de tudo o que Moniz tenha feito de mal nestes onze anos (incluindo transformar uma estação brejeira em líder nacional, e portanto Portugal num país onde uma estação brejeira lidera), não é uma boa notícia.
Entre outras façanhas, Moniz importou os reality shows, impôs as telenovelas de má qualidade e permitiu o jornalismo justiceiro. Talvez se possa efectivamente dizer que, em alguns aspectos, a TV portuguesa piorou com a sua chegada. Mas o mais provável é que, em breve, se possa dizer também que a TV portuguesa piorou ainda mais com a sua partida (se é que de uma partida se trata).
Pior do que José Eduardo Moniz foram sempre os seus sucedâneos: os vários directores de programas e/ou informação que passaram pela RTP e pela SIC e, para combater a liderança da TVI, decidiram jogar no próprio tabuleiro de Moniz, imitando-o nas maiores e mais pequenas opções. Regra geral, julgavam sempre que não sujavam as mãos como ele, mas sujavam-nas ainda mais – e, ainda por cima, não só não lideravam como, normalmente, faziam um canal pior.
Entretanto, tudo isto recai agora sobre o próximo director geral da TVI, trate-se de quem se tratar. Conseguirá ele resistir ao estigma, rasgar em novas direcções e manter a liderança? Pois terá de ser alguém muito especial.
CRÍTICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 6 de Agosto de 2009