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15 Agosto 2010

Ao pé daquilo em que a reality TV se transformou entretanto, a primeira edição de Big Brother era uma brincadeira de crianças. Como muito bem explicava ontem Marta Cardoso numa entrevista ao Correio da Manhã, nem ela, nem Zé Maria, nem Marco, nem Susana, nem Célia, nem Telmo – todos aqueles que, no fundo, se tornaram objecto ao mesmo tempo do nosso voyeurismo, da nossa ternura e até da nossa vergonha – tinham, no momento em que entraram para “a casa” (faz agora dez anos), a mínima ideia daquilo ao que iam.

Sabiam que as câmaras estavam presentes, sim. Imaginavam que, lá em casa, pelo menos algumas pessoas seguiriam as suas tontices. Mas não podiam supor que o programa houvesse entretanto tomado de assalto a actualidade – e, quando se punham aos abraços ou aos pontapés, aos beijos ou aos coitos silenciosos sob os edredões, faziam-no porque as suas emoções os impeliam a isso, não porque percebessem o alcance (e sobretudo as vantagens estratégicas) desses gestos.

Recuperar o Big Brother, por esta altura, tem seguramente alguma coisa de vintage. Para o bem e para o mal (sobretudo para o mal), aquele foi, provavelmente, o mais importante programa da televisão nos últimos vinte ou trinta anos – uma revolução que mudou quase tudo e que ainda hoje produz significativos efeitos. Mas recuperá-lo com novas personagens, sobretudo sabendo essas personagens o que puderam perceber entretanto, será como ouvir música dos anos 80 feita nos dias de hoje.

Soará a falso, o novo Big Brother da TVI (e chame-se ele Big Brother, Secret Story ou o que seja). Como objecto de estudo sociológico, valerá pouco mais do que zero. E, ao mesmo tempo, será muito mais inofensivo.

CRÓNICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 15 de Agosto de 2010

publicado por JN às 23:31

05 Agosto 2010

 

Os meios alocados pela RTP para a cobertura da 72º Volta a Portugal, que hoje começa em Viseu, são pouco menos do que impressionantes. Para além de uma centena de profissionais, as 60 horas de emissão previstas para estes onze dias envolverão três carros de exteriores, quatro motos equipadas (três com câmara e uma de som), um helicóptero e, até, um avião. Pode perguntar-se, claro, o que se anda, afinal, a fazer com “o nosso dinheiro” na Marechal Gomes da Costa. Mas o facto é que ganha a Volta, apesar de tudo o maior evento desportivo realizado este ano em solo nacional.

 

O único problema é que, como ainda ontem dizia Manuel Tavares n’O Jogo, não é possível conseguir um êxito retumbante em Portugal, nos domínios do desporto e dos seus eventos, sem a presença dos três principais clubes nacionais. É esse o problema do ciclismo nacional, muito mais até do que as permanentes denúncias em torno da utilização de doping na modalidade (o que, aliás, é um problema global, não só português). Se Benfica, FC Porto e Sporting tivessem equipas presentes na Volta, como tiveram no passado, a paixão estava garantida (e, com ela, as audiências). Assim, o mercado não supera nunca o estatuto de nicho.

O futuro do desporto, está mais do que provado, passa, em grande parte, pela sua relação com a televisão. Todas as modalidades, para além do futebol (e, aliás, incluindo o futebol), precisam de ser capazes de vender-se no pequeno ecrã. A paixão do desporto é certamente uma ferramenta, mas ainda assim menor. O fervor clubístico, sim, fará sempre a diferença. E onde haverá, em Portugal, fervor clubístico de massas para além de Benfica, FC Porto e Sporting?

CRÓNICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 4 de Agosto de 2010

publicado por JN às 01:52
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Joel Neto nasceu em Angra do Heroísmo, em 1974. Publicou “O Terceiro Servo” (romance, 2000), "O Citroën Que Escrevia Novelas Mexicanas” (contos, 2002), “Al-Jazeera, Meu Amor” (crónicas, 2003) e “José Mourinho, O Vencedor” (biografia, 2004). Está traduzido em Inglaterra e na Polónia, editado no Brasil e representado em antologias em Espanha, Itália e Brasil, para além de Portugal. Jornalista, tem trabalhado... (saber mais)
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