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17 Junho 2010

Da maneira como estão as coisas entre a televisão, o futebol e os espectadores, os programas de debate entre adeptos notórios dos três clubes grandes (vulgo “debate de painelistas”) são a única coisa capaz de impedir-nos de mergulhar na esquizofrenia total. É tanto o “4-3-3”, tanta a “basculação” e tanta a “posição 6” que, não havendo alguém que nos recorde que o futebol é sobretudo uma brincadeira, ainda acabamos todos doutorados em pontapé na bola.

Assistir a O Dia Seguinte (SIC Notícias), tanto quanto às intervenções suplementares dos seus três comentadores sobre este Mundial, já é outra coisa. Porque o mínimo que se podia esperar era que José Guilherme Aguiar, Dias Ferreira e Sílvio Cervan vissem os jogos, soubessem os resultados ou tivessem ao menos uma ideia de como vai o Campeonato do Mundo. E o facto é que viram pouco, não sabem bem e, quanto à dita ideia, é no mínimo demasiado geral.

Ter alguma coisa para dizer, no contexto de uma tal impreparação, é naturalmente impossível. E, porém, conseguem fazer-se programas longuíssimos, incluindo debates supostamente pormenorizados em torno de tudo o que se passa na África do Sul, sem ter nada para dizer. Ou, então, reduzindo a discussão àquilo que já toda a gente repete na rua porque, entretanto, ouviu os narradores das televisões, conferiu os comentadores da rádio e visitou os sites dos jornais.

Se O Dia Seguinte goza ainda de algum sucesso, é em resultados dos clubismos primários (que são os únicos que fazem sentido, diga-se). A verdade é que, mesmo sobre os jogos de FC Porto, Sporting e Benfica, porém, os três comentadores da SIC Notícias já acrescentam pouco. Quanto ao Mundial, é um deserto.

CRÍTICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 17 de Junho de 2010

publicado por JN às 15:59

13 Junho 2010

Há algo de profundamente desconcertante nos comentários de Luís Gonçalves da Silva sobre o arquivamento, pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social, da queixa apresentada por Mário Crespo contra o Jornal de Notícias. Considera o membro do Conselho Regulador que é “abusivo” (sic) o arquivamento ser noticiado como unânime, uma vez que ele próprio, apesar de não ter comparecido à reunião em que a decisão foi tomada, é contra ela.

Pois eu não vejo melhor razão para ter-se empenhado em ir à reunião – ou então para, caso a ausência fosse verdadeiramente inevitável, ter ao menos enviado uma mensagem aos restantes conselheiros, vincando a sua posição. De cavaleiros andantes incapazes de se chegarem à frente na hora certa, estamos todos cansados. E pior ainda andaria o país se, de cada vez que fosse necessário tomar uma decisão a sério, se tivesse de esperar que todos os nossos servidores públicos estivessem sentados no seu devido lugar. Como é que funcionava o Parlamento, por exemplo?

Não menos desconcertante, aliás, é a estranheza de Mário Crespo  perante o facto de nenhum outro jornal o ter entretanto convidado para escrever crónicas, finda a sua colaboração com o Jornal de Notícias. E mais desconcertante ainda é o argumento de que a sua coluna era interessante porque era “controversa”. Se tem alguma relevância a decisão da Entidade Reguladora para a Comunicação Social sobre a queixa de “censura” que Mário Crespo apresentou, então o estardalhaço que ele fez foi uma deslealdade para com a direcção do JN. Ora, não pode surpreender ninguém que mais nenhum jornal esteja ansioso por ter um colaborador desleal. Eu, se fosse director de um, não estaria.

CRÓNICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 13 de Junho de 2010

publicado por JN às 23:52

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joel neto

Joel Neto nasceu em Angra do Heroísmo, em 1974. Publicou “O Terceiro Servo” (romance, 2000), "O Citroën Que Escrevia Novelas Mexicanas” (contos, 2002), “Al-Jazeera, Meu Amor” (crónicas, 2003) e “José Mourinho, O Vencedor” (biografia, 2004). Está traduzido em Inglaterra e na Polónia, editado no Brasil e representado em antologias em Espanha, Itália e Brasil, para além de Portugal. Jornalista, tem trabalhado... (saber mais)
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