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31 Março 2010

Revê-se Eu e Os Meus Irmãos, a grande reportagem de Cândida Pinto e Jorge Pelicano agora exibida no Festival Internacional de Grandes-Reportagens (França), e percebem-se as razões por que inspirou a criação de uma organização não governamental. O terceiro mundo, já se sabe, está agora pejado de ONG perigosas, com objectivos paralelos obscuros e criminosos, incluindo a espoliação, o tráfico e o próprio terrorismo. Por esta, que recebeu o nome da própria reportagem, porém, é fácil pôr as mãos no fogo.

Porque o trabalho de que nasce não é paternalista ou manipulado, excitadinho ou tampouco “fácil”. Desde que deixámos de meter estilo com a bandeira do “jornalismo de investigação” e a substituímos pela da “grande reportagem”, o que não tem faltado pelos canais nacionais é isso: a tentação de pegar nos pobrezinhos e fazer da dor deles a nossa lágrima. Pelo contrário, Eu e Os Meus Irmãos é um pequeno oásis de contenção, nunca perdendo de vista que ali, entre os meninos de Inhambane, fracasso e resistência estão de mãos dadas e tão depressa nenhum se sobreporá ao outro, por muito que nos soubesse bem sermos definitivos sobre o desfecho.

Mérito para Cândida Pinto – e mérito também para Jorge Pelicano, autor dos documentários Ainda Há Pastores? Ou Pare Escute Olhe! Há algo de profundamente contemporâneo no resultado final. E há algo de profundamente antigo também: algo do tempo em que o jornalismo contava histórias independentemente da agenda mediática e era ainda capaz de mobilizar o público para uma causa sem que viesse de imediato contaminado de indícios de que, em breve, os protagonistas da boa-vontade se sobreporiam aos protagonistas da história.

CRÍTICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 31 de Março de 2010

publicado por JN às 20:00

29 Março 2010

Se há uma coisa passível de ser lamentada, no que diz respeito ao novo canal Q (a partir desta noite, na posição 15 do Meo), é a sua exclusividade num operador. Mais uma vez, e tal como aconteceu com o Canal Benfica ou a TVI 24, uma boa parte dos telespectadores é deixada de fora, com a única alternativa de contratar novo distribuidor (perdendo assim os canais exclusivos do distribuidor original). Por outro lado, as Produções Fictícias são uma produtora privada, a quem não se pode pedir que desmonte sozinha as idiossincrasias do sistema capitalista. Aguentemo-lo, pois.

Porque, de resto, são só vantagens. Não é verdade que tudo o que sai das Produções Fictícias seja bom: com a diversificação da oferta, a empresa de Nuno Artur Silva tem ligado o seu nome a um número crescente de flops, tanto em termos de público como em termos de qualidade. Mas trata-se, em qualquer caso, de uma plataforma única em Portugal para o exercício da criatividade. Aliás, se alguma vez for mesmo preciso dividir a história do humor português entre um “antes” e um “depois”, a fronteira estará exactamente na criação das Produções Fictícias, de onde não só saíram os Gato Fedorento, como o Contra-Informação ou os textos para a melhor fase de Herman José.

E, entretanto, há o modelo interactivo do canal, que permite ao Meo mais um significativo salto no desenvolvimento da sua plataforma. Com o Q, a gravação simplesmente deixa de ser uma prerrogativa marginal para passar a ser uma opção tão lógica como o visionamento em contínuo. Daí que aquilo que se faz esta noite é também, de alguma forma, História. E é uma honra assistir à sua marcha.

CRÓNICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 29 de Março de 2010

publicado por JN às 23:26

26 Março 2010

A escolha de Rita Rato para o cargo de relatora da Comissão de Ética, Sociedade e Cultura, que se reuniu para avaliar o estado da liberdade de expressão em Portugal, é pouco menos do que desconcertante. Quem assistiu às audições realizadas até ao momento só pode ter ficado atónito tanto com o teor como com o tom das perguntas da deputada comunista. Por outro lado, percebeu igualmente, com toda a clareza, que, embora seja a mais inexperiente das pessoas que compõem a comissão, Rita Rato é a mais bonita.

Pois a sua eleição, ainda por cima unânime, é mais uma prova de que, pelo menos a partir de certa altura, esta comissão parlamentar começou a viver em grande parte para a televisão que transmitia as suas sessões em directo. Afinal, e em vez de uma circunspecta comunicação pública dos resultados da actividade de uma igualmente circunspecta comissão, teremos como que uma espécie de apresentação dos nomeados aos Óscares abrilhantada pela rapariga mais gira do momento. E o mais provável é que isso efectivamente faça sentido.

Resta saber se Rita Rato vai mesmo informar-nos sobre se a liberdade de expressão é observada em Portugal ou, pelo contrário, se o modelo económico dos media portugueses, o sistema capitalista em geral e a própria espécie humana não devem ser abolidos por decreto. Entretanto, porém, talvez alguém devesse aconselhá-la a olhar para o exemplo do jornal “i”, de forma a perceber o que são os media, o que é o público, o que são as generosidades e as crueldades que cada um deles tem para com o outro – e, enfim, o esforço que é preciso fazer para assegurar a sobrevivência de projectos e de postos de trabalho no mundo em que vivemos.

CRÓNICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 26 de Março de 2010

publicado por JN às 23:21

25 Março 2010

 

Quanto aos trabalhos da Comissão de Ética e à sua cobertura em directo, pois acho o mesmo que achará qualquer pessoa atenta ao fenómeno mediático: que em muitos casos os deputados se comportaram como alunos excitadinhos e mal preparados em dia de visita de um famoso à escola – e que, ao permitir-se este modelo de audições ao vivo, a Assembleia da República não fez outra coisa senão condescender com a montagem de um circo que não só deixou a nu a fragilidade dos nossos representantes, como permitiu o reforço do protagonismo de alguns dos jornalistas mais conspícuos da praça. No fim, aquilo para que tudo isto serviu foi para os canais noticiosos se colocarem por umas quantas semanas no centro da actualidade. Bem fizeram eles em aproveitá-lo. E bem merece o Parlamento que o tenham aproveitado.

 

De resto, é deprimente assistir ao autismo dos deputados da esquerda parlamentar perante a marcha do mundo (e, aliás, perante o actual momento da economia mundial). Ainda na terça-feira as perguntas colocadas aos inquiridos raramente visavam a tentativa de perceber se efectivamente existe ingerência governamental nos media, mas antes se o capitalismo, com a sua tendência para a formação de grupos económicos (e para a criação de sinergias entre as empresas desses grupos), se socorre da precaridade laboral para, no fundo, limitar essa liberdade. Curioso. Porque, se há uma coisa de que extrema-esquerda nunca poderá reclamar-se zeladora, é a liberdade de expressão. E porque tanto o PCP como o BE são eles próprios partidos puramente capitalistas, apesar daquilo que digam os seus manifestos e das agendas eleitoralistas que marquem as suas intervenções mediáticas.

CRÍTICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 25 de Março de 2010

publicado por JN às 23:18

23 Março 2010

Extinto o Domingo Desportivo, os programas de painel dividido entre um adepto do Benfica, um adepto do FC Porto e um adepto do Sporting são agora os nossos únicos debates futebolísticos relevantes. Por um lado, ainda bem que assim é: cansados de levar o futebol demasiado a sério já andamos nós todos – e assim, reduzido à condição de conversa de café, o jogo não só regressa ao seu devido lugar como, inclusive, ganha toda uma nova dimensão lúdica.

Entretanto, há várias razões para a deslocação de Trio D’Ataque, o formato da RTP (agora circunscrito à RTPN), à cidade de Newark, em New Jersey (EUA), de onde o programa desta noite será emitido. A primeira tem a ver com a própria RTP, que conserva a preferência entre os emigrantes, compensando com programação algum do protagonismo que vem perdendo nos domínios da distribuição. A segunda tem a ver com o programa propriamente dito, que é o melhor dos três debates semanais do género existentes na televisão portuguesa.

O Dia Seguinte, da SIC Notícias, está mais do que cristalizado: os coloquiantes às vezes nem sequer os jogos viram – e, ainda por cima, Sílvio Cervan veio tornar o tom da conversa praticamente insuportável. Prolongamento, da TVI 24, mal nasceu e já parecia velho, com Pôncio Monteiro e a sua provocadora personagem  a relevarem-se insuficientes para manter vivo o interesse. Já Trio D’Ataque é de outra origem: nenhum dos participantes é uma estrela, mas regra geral todos eles pensam pela própria cabeça – e, inevitavelmente, a substância da discussão ganha com isso.

O que é preciso é que efectivamente continue a haver três clubes grandes, e não apenas dois. Mas isso é conversa de outra natureza.

CRÍTICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 23 de Março de 2010

publicado por JN às 23:05

20 Março 2010

Não sei se efectivamente se pode dizer como Charles Kenny, o célebre economista norte-americano para o qual “a televisão vai salvar o mundo”. Mas sei que os seus dados são correctos. Sei que os dados dos investigadores Robert Jensen e Emily Oster, igualmente americanos, são correctos também. E tenho poucas dúvidas, por esta altura, de que, no essencial, todos têm razão: a televisão será um dos investimentos mais seguros dos próximos anos.

Em 1995, e apesar daquilo que possamos pensar, apenas 45 por cento dos lares ao redor do mundo dispunham de TV. Esse número subiu significativamente ao longo dos dez anos seguintes, situando-se em 2005 na ordem dos 60%. Pois até 2015, e à medida que o chamado “terceiro mundo” se vai desenvolvendo, o número de lares cobertos deverá crescer outros 15 por cento. E só nos próximos três anos serão vendidos mais de 150 milhões de aparelhos, o que inevitavelmente trará uma série de oportunidades nos domínios da produção e da distribuição também.
É caso para voltar a celebrar este maravilhoso meio de comunicação. Até porque, como nota Charles Kenny, nem só à violência, à obesidade e à alienação se pode associar a TV. Por todo o mundo, milhões de pessoas vão despertando para a verdadeira natureza do poder dos ditadores que as governam. Ao mesmo tempo, centenas de milhar de mulheres subjugadas pelos maridos vão aprendendo que podem tomar sozinhas a decisão de ir ao mercado – e, entretanto, já não passam a vida a rezar por terem filhos rapazes, em vez de raparigas.
Não sou eu que o digo: são estudos académicos. Os mesmos que provam que, ao contrário do que tantas vezes pretendemos, o mundo é melhor com televisão.

CRÓNICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 20 de Março de 2010

publicado por JN às 23:39

19 Março 2010

A realização é irrepreensível, a fotografia magnífica e os actores excelentes. O genérico é belíssimo, a banda sonora rigorosa e os diálogos fulminantes. Então, porque é que The Pacific vai ser uma longa chatice? Precisamente porque é perfeita. Ou perfeitinha.

A avaliar pelo primeiro episódio, a nova produção de Steven Spielberg e Tom Hanks (AXN), será sobretudo a transposição para a televisão de tudo aquilo que já vimos no cinema: a camaradagem de Pearl Harbour, o desembarque de O Resgate do Soldado Ryan, a contemplação atónita de A Barreira Invisível e mesmo a humanização do inimigo de Cartas de Iwo Jima, para citar apenas alguns exemplos temáticos (e retirados em exclusivo de filmes recentes sobre a II Guerra Mundial).
Se alguma coisa distingue The Pacific daquilo de que é sucedâneo, na verdade, é a sua insistência na literatura. E, porém, é talvez nisso que a série mais claramente falha. Porque o centro de consciência da narrativa são aquelas personagens naquele momento – e fazê-las percorrer tão depressa grandes autores e grandes citações a pretexto do que estão a viver é antecipar-lhes de forma brutal uma sabedoria que só o tempo e a memória lhes trarão.
É boa televisão? Sim e não. Por um lado, uma produção desta qualidade, tecnicamente tão evoluída, engrandece o meio. Por outro, o futuro da ficção televisiva não passará pelos blockbusters, mas pelos pequenos projectos, mais ou menos experimentais, capazes de abrir novos caminhos ao género.
Pois The Pacific consagra tradições, mas simplesmente não abre um único novo caminho. Aliás: em que é ela é diferente de Band of Brothers, afinal?

CRÍTICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 19 de Março de 2010

publicado por JN às 23:36

17 Março 2010

Quem quer que se preocupe com este negócio – este mesmo de que o leitor acaba de tornar-se parte, ao comprar o seu jornal pela manhã – sabe-o bem: o futuro da informação escrita passa pela descoberta do modelo ideal para a rentabilização da Internet. Muita gente está a ganhar dinheiro com a web, sim. Mas uma coisa são os projectos inovadores (que acabam sempre por rentabilizar-se), outra a distribuição fragmentada da oferta física previamente existente (que também já vai conseguindo fazer-se pagar), e outra ainda a venda regular de informação sólida e profissional antes circunscrita ao papel (que já encontrou vários caminhos para a sua reposição online, mas não a forma ideal para fazer-se cobrar por isso).

Até lá, e neste contexto em que nos sobra cada vez menos tempo para nos sentarmos a ler, o negócio dos jornais estará limitado. Mas não só o dos jornais: também o da televisão. Porque, a partir do momento em que a informação online deixar ser absolutamente gratuita, a própria TV dificilmente condescenderá com a vampirização de que é alvo neste momento. Primeiro facto: os cultos que vão sendo criados na Internet em torno de pequenos e grandes formatos televisivos, com programas inteiros colocados à disposição de toda a gente em sites como o YouTube, são óptimos para a divulgação da actividade televisiva. Segundo facto: essa disponibilização é quase sempre feita sem a presença dos anunciantes – e, à medida que for crescendo, tornará o negócio da televisão menos atractivo.
No que diz respeito à revolução digital, talvez não estejamos já na Pré-História, mas não estamos mais avançados do que na Idade Média. Interessantes tempos nos esperam.

CRÓNICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 17 de Março de 2010

publicado por JN às 23:45

15 Março 2010

Todos os anos é assim: uns raiozinhos de sol, e logo as televisões desatam em reportagens sobre as dietas, os ginásios e as novas colecções de biquínis em que as senhoras vão querer entrar. Só este sábado, contei quatro peças, espalhadas por vários canais, a anunciar que a loucura do Verão começa a instalar-se. Na Páscoa, já se sabe, teremos as filas para sair de Lisboa. Nos feriados de Junho, as reportagens nas praias, com imagens dos primeiros mergulhos a sério. E em Agosto, claro, os apontamentos, as historietas e até os directos das festas algarvias, cheias de jet set e de vox pop.

Todos os anos é assim e, pelos vistos, sempre assim será. Em Janeiro são as resoluções de Ano Novo, em Março as férias de sonho, em Outubro o regresso às aulas, em Dezembro os balanços do ano – tudo como uma espécie de check list à base de reportagens prontas-a-usar, em que é só esticar o microfone ao povo, mudar as proposições ao texto do ano passado e deixar tudo na edição para o tipo de montagem fazer igual a sempre. E a pergunta inevitável não é apenas: “Onde está a criatividade?” É também: “Onde está a dimensão humana em que deve fundamentar-se o jornalismo, incluindo o inevitável pressuposto de que cada história é uma história?”
O mundo mudou muito. As redacções estão depauperadas, a agenda está cheia de conferências de imprensa a propósito da crise e da corrupção – e, ainda por cima, o desemprego, as falências e as misérias fazem aumentar os roubos e os homicídios. Mas a primeira obrigação de um jornalista é ter um olhar sobre o mundo. Ora, se o seu olhar permanece o mesmo de sempre, tendo o mundo mudado tanto, o que se pode dizer desse jornalista?

CRÓNICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 15 de Março de 2010

publicado por JN às 12:20

13 Março 2010

O novo programa de Rui Sinel de Cordes, Gente da Minha Terra (SIC Radical), parece assentar como uma luva às almas mais sensíveis em busca de um choque emocional. Só na primeira edição, Rui viajou para Elvas com Bibi, escavou na areia com Luís Militão e encontrou Maddie no fundo de um convés repleto de redes de pesca. No fim, uma declaração: “Este programa é como os Jogos Paralímpicos. Todos são vencedores.” Não hão-de tardar as cartas à direcção do canal, as denúncias à ERC e as queixas ao Tribunal Europeu dos Direitos do Homem.

Para quem for capaz de rir de tudo, porém, há momentos verdadeiramente hilariantes – muito mais hilariantes do que os de qualquer um dos mais recentes programas de humor dos canais generalistas. A proposta é visitar semanalmente uma região diferente do país, satirizando as suas idiossincrasias e desmontando os seus mitos. O primeiro episódio centrou-se no Algarve – e, do Ocean Club a Zezé Camarinha, passando por Paulo China, pelo Ali Super e pela noite de Albufeira, nada escapou à fúria do protagonista. Muito menos o chamado jet set, que merece tiradas assim: “Esta Marta Leite de Castro nem deixa arrefecer a cama…”
A realização é um tanto caseira, embora tente disfarçá-lo com recurso à infografia e à matização da imagem. O ritmo não é grande coisa – e as entrevistas com personalidades locais, a avaliar por esta primeira com Zé Black, referência da noite algarvia, parece mais para queimar tempo do que qualquer outra coisa (não há nada mais deprimente do que uma pessoa sem humor a esforçar-se por parecer divertida). Mas o facto é: guilty pleasure mais guilty pleasure do que este é difícil. Como resistir-lhe?

CRÍTICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 13 de Março de 2010

publicado por JN às 20:54

11 Março 2010

Têm toda a propriedade as celebrações que vamos empreendendo em torno dos novos adventos tecnológicos ocorridos no meio televisivo – e pouco tempo faltará para que a TV simplesmente não faça sentido sem as prerrogativas da TDT, da IPTV, da HD, da produção multi-plataformas ou de tantas outras inovações recentes. Até porque a esse salto tecnológico tem correspondido um salto na qualidade da produção, permitindo a este amplo e democrático meio de comunicação manter-se na vanguarda da cultura pop.

Com a televisão 3D, é outra coisa. Num momento em que a Sony se prepara para lançar os primeiros televisores tridimensionais, convém olhar para as mais recentes experiências realizadas, nesse âmbito, no universo do cinema. O que foi Um Conto de Natal, afinal? O que foi, antes dele, A Noite dos Mortos Vivos 3D? O que foi, até, Avatar? Experiências em torno da tecnologia, não mais – exercícios de forma a que o conteúdo não correspondeu, relegando para secundaríssimo plano as personagens, a intriga e os dilemas humanos sobre os quais deve assentar uma ficção.
O problema era expectável: todas as revoluções vêm alcandoradas de um subsequente período de transição e de caos. Mas não deixa de ser aborrecido. Porque o mais que se pode prever agora é que, ao longo dos próximos anos, a TV vire numa espécie de delírio incandescente sem pessoas lá dentro. Haverá abismo, claro – mas será o abismo da própria caixa, não daquilo a que ela servia de meio. E, quando a ficção coloca a tónica na forma, mais do que no conteúdo, uma de duas coisas acontece: ou reescrevemos o Tristram Shandy; ou acabamos a brincar ao fogo de artifício. Quase sempre acabamos a brincar ao fogo de artifício.

CRÓNICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 11 de Março de 2010

publicado por JN às 20:51

09 Março 2010

A opção da SIC por manter até ao fim o secretismo em torno de Verdade Ou Talvez Não?, o novo programa de Bárbara Guimarães (domingo à noite), proporcionou-nos um dos momentos de TV mais kafkianos dos últimos tempos. Dizer que esse secretismo foi mantido até ao fim significa que ele foi mantido até ao fim mesmo: até ao fim do programa. Porque, terminada a primeira edição (e independentemente do “big show António Feio”, cujo regresso se saúda), muitos telespectadores provavelmente ainda nem teriam percebido diante do que estavam.

Verdade Ou Talvez Não? não é um programa de variedades, apesar de ter momentos de humor. Nem é um concurso, apesar de haver aquilo que parecem equipas a tentar adivinhar as respostas a perguntas. Nem é uma gala especial patrocinada por uma instituição de combate aos mitos na saúde, apesar de nem sequer ter ficado claro quantas edições o programa merecerá. E, sobretudo, tem um décor paupérrimo, ao nível da day time TV – ou, pior ainda, daqueles concursos de fim de tarde para os quais se telefona a adivinhar palavras por 200 euros.
Não é preciso estar demasiado atento para percebê-lo: a SIC é o canal que mais se tem empenhado em diversificar a oferta, na esperança de que algum dos produtos funcione (e de que, com isso, possa inverter a tendência para a consolidação do terceiro lugar nas audiências, longe da RTP e muito longe da TVI). Mas começa demasiado depressa a cair na “angústia pós-Idolos”, que apenas não durará até ao arranque de Achas Que Sabes Dançar? se, entretanto, XXS (com Pedro Miguel Ramos e Carolina Patrocínio), que estreia no próximo domingo, vier a relevar-se milagroso.

CRÍICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 9 de Março de 2010

publicado por JN às 23:25

08 Março 2010

Teen Mom (MTV) não só é uma boa ideia como, tendo em conta o universo de onde provem, está bem executado. A história: protagonistas da série de documentários 16 and Pregnant, onde se evidenciavam casos de gravidez na adolescência, quatro jovens americanas são agora recuperadas, um ano depois, para uma nova série a propósito da maternidade entre adolescentes, incluindo os seus dilemas sobre se serão capazes de dar conta do recado, como vão acabar agora o liceu ou quando devem regressar à actividade sexual.

A primeira emissão de 16 and Pregnant foi a estreia mais vista nos EUA em 2009, pelo que o sucesso é garantido. Mas não deixa de ser interessante a forma como a MTV articula o negócio com uma certa responsabilidade social. Num tempo de progressiva diluição de valores e de drástica exponenciação das ansiedades, a maternidade precoce, antes apanágio das classes mais desfavorecidas, é agora transversal. Ora, a MTV, que tantas vezes tem contribuído para o empobrecimento intelectual da juventude, encontra aqui uma oportunidade de redimir-se um pouco. Faz bem.
Para a minha geração, que já não é adolescente e ainda não tem filhos adolescentes, porém, o programa serve de pouco. Por outro lado, os pais da minha idade também têm as suas idiossincrasias. No outro dia, por exemplo, dei-me conta de que um casal vizinho está há um mês a antecipar as horas das refeições da criança, ao ritmo de dez minutos por semana, para que ela se habitue à próxima mudança da hora. E pergunto-me se não seria também interessante um programa sobre a maternidade em geral, incluindo os casos em que a simples concepção parece trazer sentido a uma vida inteira de desinteresse e fracasso.

CRÓNICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 8 de Março de 2010

publicado por JN às 23:33

07 Março 2010

1. Miguel Sousa Tavares tem razão: são absurdas as queixas formais dos telespectadores sobre a forma opiniosa como o jornalista tem conduzido o seu Sinais de Fogo. Nem entrevista é notícia nem o jornalismo tem de ser todo imparcial (se é que alguma vez algum o foi em absoluto). Mas não deixa de ser curioso que, ao fim de dois programas, tudo o que se debata sobre Sinais de Fogo seja quem lá esteve, como o entrevistou MST e como se entenderam os dois protagonistas. É importante que, mais cedo ou mais tarde, se fale também do que as pessoas disseram.

2. A TVI não foi surda aos apelos e preparou melhor a transmissão da chamada “cerimónia dos Óscares” deste ano, agendando para a TVI24 um longo programa de lançamento, apresentado por Pedro Granger. Ainda não se sabe o que vai sair dali, mas é justo elogiar a humildade – e, de resto, a atenção à necessidade de potenciar o produto. Pena que, aparentemente, o directo do Kodak Theatre em si volte a decorrer segundo o velho formato, com Vítor Moura e José Vieira Mendes enfiados numa cave esconsa, sem rede ou preparação, a dizer o que lhes vem à cabeça.
3. A nomeação de Castigo Final para os Emmy Awards honra a produção portuguesa (e a da beActive em particular), mas envergonha a televisão. Há diversas áreas da aplicação da tecnologia à TV em que Portugal está verdadeiramente na frente (outro exemplo é o da IPTV, onde o Meo é um case study mundial). Infelizmente, para os directores nossos principais canais, tudo se resume às vezes a um jogo de egos e a uma luta imediatista pelas audiências, mais até do que pelo mercado publicitário. Resultado: Castigo Final passou no Brasil, mas não em Portugal. Faz sentido, isto?

CRÓNICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 7 de Março de 2010

publicado por JN às 22:43

06 Março 2010

O novo formato de Judite de Sousa, Vidas (estreia marcada para segunda-feira, na RTP1), provoca a melhor das expectativas. Quando tantos outros programas vão copiando a já batida fórmula de Nós Por Cá (até Sinais de Fogo, de Miguel Sousa Tavares, reedita em momentos o tom “desmascarador” do magazine de Conceição Lino), a ideia de fechar o ângulo na pessoa, no indivíduo, na célula, é quase luminosa.

As dificuldades serão duas: encontrar as histórias verdadeiramente boas, uma vez que a procura depende ela própria dos testemunhos pessoais (e os protagonistas anónimos nem sempre têm uma ideia muito clara do que vale aquilo que viveram); e ser capaz de contá-las com alguma amplitude de movimentos (vencendo, por exemplo, as barreiras que se colocarão ao exercício do contraditório).
Todos sentimos, em algum instante das nossas vidas, a necessidade de ajustar contas com alguém. Por outro lado, todos somos também, durante a vida inteira ou apenas num dia só, gabarolas. Despistar as vingançazinhas e a bazófia – eis um dos desafios da produção. Sendo que o outro é, naturalmente, ser capaz de revestir as histórias de alguma coerência, tal é a fragmentação com que os cidadãos não habituadas à comunicação recordam as histórias que viveram.
Em muitos casos (como aconteceu com as experiências feitas neste campo pelos programas da day time TV), acabamos por ir dar a histórias conhecidas e já contadas, partindo então do princípio de que o público se esqueceu delas. Há que resistir a essa tentação. Portugal está cheio de histórias. Cada homem é, em si, um longo romance. O que é preciso é identificar bem onde está o dilema – e, depois, saber contá-lo.

CRÓNICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 6 de Março de 2010

publicado por JN às 23:47

05 Março 2010

Tenho criticado quase tudo o que rodeia o velho Festival RTP da Canção, na certeza de que quaisquer esforços que possam ser empreendidos pela estação pública para dotar a festa de um mínimo de sofisticação esbarram na absoluta mediocridade das canções. O mesmo acontece este ano: a primeira meia-final foi um pobre espectáculo – e tudo apontava então para que também a segunda meia-final (emitida já depois do fecho desta página) o fosse também.
Mas não – é justo reforçá-lo – por falta de empenho da RTP. Porque a produção deste ano não só suplanta o investimento da últimas edições, como o eleva a níveis de alguma imponência. Não estava tanta gente quanto isso no Campo Pequeno, mas a realização e a gestão do décor conseguiram transmitir uma imagem de grandeza. As infografias e os oráculos eram um tanto pobres, mas os guiões nem por isso. Sílvia Alberto não tirou qualquer coelho da cartola, mas foi competente. E só aquele belo genérico inicial (para além da transmissão integral em HD, claro) já justificava um elogio.
Só que as canções voltam a ser más – regra geral, aliás, muito más. Se a melodia tem algum interesse, falha a letra. Se a letra é tolerável, a orquestração é desastrosa. E, se a orquestração funciona, a interpretação revela-se foleira (a palavra é essa). Só assistir aos pequenos filmes de introdução dos cantores, na verdade, já nos transporta para o universo da chamada música “pimba”, tantas são a referências à astrologia, a Nicholas Sparks e a outros incontornáveis ícones da cultura ultra-light. A RTP já merecia outro tratamento por parte dos autores portugueses. Porque é que os nossos verdadeiros músicos não dão uma segunda oportunidade ao Festival?

CRÍTICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 5 de Março de 2010

publicado por JN às 23:39

04 Março 2010

Rever Os Normais (TV Globo Portugal, vários horários) é confirmar o que já antes se percebia: que nunca se fez outra coisa assim nos domínios do humor em língua portuguesa – e que, de resto, jamais a nossa televisão chegou sequer perto daquele resultado. Os dilemas são os de todos os dias, mas os diálogos são fulminantes. E os actores são magníficos, incluindo uma Fernanda Torres que transformou um corpo banal num novo paradigma de beleza e um Luiz Fernando Guimarães que, sendo um notório gay, interpreta de forma exímia a figura do machão tropical, mimado, preguiçoso e resistente ao casamento.

É difícil escrever uma sitcom, como o provam os muitos fracassos ocorridos na própria TV americana, a maior referência no género. E, porém, quando se trata de comparar Os Normais com tudo o que já se fez em Portugal, o que está em causa não é tanto a estrutura da narrativa quanto o tipo de humor. Porque também nós já produzimos coisas boas, inclusive algumas brilhantes (Herman José e Gato Fedorento à cabeça). Mas fizemo-lo sempre com recurso ao humor nonsense, nunca ao humor clássico. E este, encaremo-lo, é muito mais difícil de trabalhar. Porque não se trata de pegar no quotidiano e subverter as suas lógicas, mas de reeditá-las e, apesar disso, desconstruí-las de forma delirante.
Dizia Wittgenstein que o humor não é um estado de espírito, mas uma visão do mundo. A nossa tenta às vezes ser clássica, mas nesses casos revela-se sempre cliché, bidimensional e fundamentalmente ridícula – e só quando desata a partir cadeiras ganha um mínimo de graça. É uma limitação significativa. Quem nos disse que os portugueses eram pessoas com ironia bem nos enganou.

CRÍTICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 4 de Março de 2010

publicado por JN às 23:36

03 Março 2010

A notícia de que a RTP Açores já não vai avançar com a construção de um novo edifício, avançada pelo próprio director (Pedro Bicudo) à Comissão de Trabalhadores da estação, é apenas mais um sinal do caos que se vive em Ponta Delgada. Chegado dos EUA envolto em aura messiânica, Bicudo prometeu a Lisboa o controlo do “despesismo orçamental” da empresa e aos açorianos a construção de um edifício modelar, o reforço da ligação do canal à sociedade civil e a colocação do sinal do mesmo nos distribuidores de televisão do continente, cabo e IPTV incluídos. Ao fim de três anos, falhou em tudo: nenhum continental tem a RTP Açores em casa a não ser via parabólica; depauperada de produção e de audiências, a estação deixou de servir a coesão entre as ilhas; ninguém, nem em Lisboa nem nos próprios Açores, faz bem ideia do que se passa com as contas da empresa; e, afinal, já não haverá novo edifício ou qualquer outro reforço de meios, de condições de trabalho ou de expectativas. Entretanto, o chefe dos Serviços de Informação é agora o mesmo homem (João Soares Ferreira) que durante uma década liderou a comunicação do Governo Regional. Carlos César é a figura principal de quase todos os telejornais, com emissões em que se chegam a apresentar três e quatro peças centradas na actividade do Governo. E, quando Guilherme Costa foi às ilhas discutir o futuro da estação, em Dezembro – levando, entretanto, o nome de António Fragoso como proposta de substituto para Pedro Bicudo –, não ouviu outra coisa dos interlocutores regionais senão que, tirando uma fase inicial de desnorte, as coisas estão agora no bom caminho. Afinal, tudo está bem quando acaba bem.

CRÓNICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 3 de Março de 2010

publicado por JN às 18:02

02 Março 2010

Há um momento divertido no último As Escolhas de Marcelo Rebelo de Sousa (RTP1), que domingo se despediu a partir da Madeira. Marcelo e Maria Flor Pedroso estão no hall de entrada do Teatro Baltazar Dias (um cenário lindíssimo, aliás), quando, ao chegarem aos últimos dois minutos de programa, põem em prática a rábula combinada: a troca de elogios e a oferta à jornalista, pelo comentador, de um antúrio.

Quando o professor se levanta, traz a perneira esquerda arregaçada, em resultado do excesso de conforto com que se sentara durante o programa – e levá-la-á arregaçada até à rua, inclusive até que a sua imagem se desvaneça na bruma, ao jeito de Lucky Luke. Entretanto, porém, não “oferecera” a flor à apresentadora. “Dispensara-lho”, largando-lha para cima como quem despacha um assunto já velho e olha em volta: “Venham mais e melhores!”
Sinal de vitalidade, claro – e sinal, de resto, de uma auto-confiança justificadíssima. Mas a verdade é que a próxima tarefa do comentador não é fácil. Porque ele sabe que, se pretende mesmo capitalizar estes dez anos (na altura serão quinze) de principesca exposição em sede de candidatura a Belém, o projecto a executar agora tem de ser tão criteriosamente seleccionado como o espaço em que será executado. Dito de outra forma, é talvez ainda mais importante agora “o que” Marcelo vai fazer do que “onde” o fará.
Que toda a gente o queria, não duvido. Se o seu novo empregador estará à altura das exigências da sua agenda, sabendo protegê-la (até porque o objectivo interessa a ambos) sem permitir que ela se desmorone por revelar-se demasiado óbvia, já é outra coisa. Em todo o caso, o excesso de conforto acabou.

CRÓNICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 2 de Março de 2010

publicado por JN às 18:08

01 Março 2010

A avaliar pelo original britânico, As Crianças Estão Certas, que a RTP1 estreia em finais de Março, parece apenas uma variação do velho Sabe Mais Que Um Miúdo de 10 Anos?. Mas é mais do que isso: é uma variação de todos os concursos de cultura geral feitos até hoje, em linha com a longa série de reciclagens-e-reconfigurações que os produtores vão engendrando para não cansar o espectador.

Vistos os últimos trinta anos, já tivemos de tudo: concursos com e sem crianças, concursos com e sem famílias, concursos em que um só concorrente enfrentava uma plateia toda e em que dois concorrentes se enfrentavam um ao outro, programas que faziam desfilar 50 perguntas e concursos que durante meia hora não faziam mais de duas ou três, programas em que a ideia era mesmo testar a cultura geral dos portugueses e programas em que não se pretendia outra coisa senão proporcionar um espectáculo divertido. Basicamente, ia tudo dar ao mesmo.
De todos, o melhor foi provavelmente O Elo Mais Fraco. Em pouco mais de 20 minutos, os concorrentes eram colocados perante dezenas de perguntas das mais diversas áreas, sempre sem reduzir a cultura geral à actividade “dos famosos” ou à actualidade comezinha. Depois, nunca era preciso passar dez minutos à espera de conferir uma resposta. Nem sequer cinco, ou três, ou mesmo um minuto: um instante bastava – e, no entanto, não deixava de haver expectativa, abismo e ansiedade.
Como apreciador do género, gostava de ver regressados esses formatos mais clássicos, sem grandes artifícios ou disfarces. Mas o mais provável é que as pessoas efectivamente não tenham o mínimo desejo de testar a sua cultura geral.

CRÓNICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 1 de Março de 2010

publicado por JN às 23:40

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joel neto

Joel Neto nasceu em Angra do Heroísmo, em 1974. Publicou “O Terceiro Servo” (romance, 2000), "O Citroën Que Escrevia Novelas Mexicanas” (contos, 2002), “Al-Jazeera, Meu Amor” (crónicas, 2003) e “José Mourinho, O Vencedor” (biografia, 2004). Está traduzido em Inglaterra e na Polónia, editado no Brasil e representado em antologias em Espanha, Itália e Brasil, para além de Portugal. Jornalista, tem trabalhado... (saber mais)
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