
Porque o trabalho de que nasce não é paternalista ou manipulado, excitadinho ou tampouco “fácil”. Desde que deixámos de meter estilo com a bandeira do “jornalismo de investigação” e a substituímos pela da “grande reportagem”, o que não tem faltado pelos canais nacionais é isso: a tentação de pegar nos pobrezinhos e fazer da dor deles a nossa lágrima. Pelo contrário, Eu e Os Meus Irmãos é um pequeno oásis de contenção, nunca perdendo de vista que ali, entre os meninos de Inhambane, fracasso e resistência estão de mãos dadas e tão depressa nenhum se sobreporá ao outro, por muito que nos soubesse bem sermos definitivos sobre o desfecho.
Mérito para Cândida Pinto – e mérito também para Jorge Pelicano, autor dos documentários Ainda Há Pastores? Ou Pare Escute Olhe! Há algo de profundamente contemporâneo no resultado final. E há algo de profundamente antigo também: algo do tempo em que o jornalismo contava histórias independentemente da agenda mediática e era ainda capaz de mobilizar o público para uma causa sem que viesse de imediato contaminado de indícios de que, em breve, os protagonistas da boa-vontade se sobreporiam aos protagonistas da história.
CRÍTICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 31 de Março de 2010