O regresso da Rui Unas à apresentação, marcado para a Primavera na SIC Radical, é uma das primeiras grandes notícias do ano. Unas faz falta à nossa televisão – e é mesmo pena que continue, para já, à espera de uma verdadeira oportunidade no segmento generalista, incluindo o horário nobre dos canais de sinal aberto. Inteligente e culto, tanto quanto espontâneo e cómico, Rui Unas tem o perfil ideal para ajudar a elevar a fasquia da qualidade do nosso mainstream sem, ao mesmo tempo, a colocar tão alta que os consumidores de mainstream não consigam atingi-la.
Mas convém perceber as razões que estiveram por detrás do seu ocaso, ocorrido entre Cabaret da Coxa (SIC Radical) e Inimigo Público (SIC). Cabaret da Coxa era um prodígio de forma: um verdadeiro statement sobre a trash TV, as suas potencialidades e os seus limites – mas ao fim de algum tempo cansava, por falta de conteúdo. Pelo contrário, Inimigo Público, que de generalista só tinha o canal (o horário tornava-o inacessível), era um prodígio de conteúdo, tal como o era na altura a sua versão em papel – mas fora muito mal pensado do ponto de vista da forma e, ao fim de pouco tempo, adormeceu.
O que se espera do novo programa, que Rui Unas começará a apresentar depois das gravações de Viver É Fácil para a RTP (e cujo nome continua por anunciar), é que lhe proporcione finalmente uma forma que lhe permita exibir o seu próprio conteúdo, sem deixar de proporcionar-lhe também um conteúdo que o proteja dos seus próprios excessos de forma. Porque o facto é este: desde que o Gato Fedorento começou a gozar a enésima sabática, o humor televisivo nacional tem sido um deserto.
CRÓNICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 30 de Janeiro de 2010