A televisão portuguesa está em modo “pausa”, à espera de melhores dias. Basta olhar para aquilo que nos propõem os canais generalistas para o Réveillon: Dança Comigo no Gelo Especial na RTP1, Ídolos Especial na SIC, Uma Canção Para Ti Especial na TVI – exactamente o mesmo de sempre, como se nem sequer fosse dia de festa (apenas um dia em que há mais gente em frente à TV).
Para o telespectador, é deprimente. Dias de festa não são apenas dias de festa: são também balizas para a passagem do tempo, marcos para delimitar os acontecimentos de uma vida e de uma sociedade. Acontece que não há dinheiro. E, aparentemente, no século XXI é assim: a falta de dinheiro não inspira a criatividade, mas a repetição de fórmulas.
Nem sequer é coisa só nossa, muito menos só da televisão. No próprio cinema, os projectos ousados estão praticamente votados ao esquecimento, com as grandes produtoras (e as grandes distribuidoras) a promoverem quase em exclusivo os filmes de bilheteira garantida, esquecendo, por exemplo, os pré-candidatos aos Óscares.
Acontece que a TV generalista vive os seus últimos dias. Mudou tudo nos últimos três anos – e, dentro de outros três, já poucos estarão na disposição de ver “isto” (ou sequer “assim”). Pois o meu receio é de que os canais abertos passem demasiado tempo em modo “pausa”, negligenciando a necessidade de reconverter-se – e reduzindo definitivamente o seu público, muito em breve, aos reformados, às donas de casa e aos doentes nos hospitais.
CRÓNICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 31 de Dezembro de 2009