É uma boa notícia, de certa forma, a chegada de Jorge Lacão à tutela da comunicação social (e, portanto, da televisão). Augusto Santos Silva fez o que tinha de ser feito (e geriu bem, para o seu Governo e para o seu partido, uma série de crises), mas fez também mais do que isso. Em muitos momentos foi, na prática, uma espécie de ministro da Propaganda em tempos de democracia – e Jorge Lacão, até pelo seu perfil mais guerrilheiro e translúcido, terá menos propensão para esse estilo de comunicação.
Mas ainda não foi desta que os media passaram para a tutela do Ministério da Economia – e esse, sim, é o passo que, em algum momento, a democracia terá de dar. Todos o sabemos: os órgãos de comunicação social têm especificidades. Mas o seu grau de especificidade é cada vez menos relevante se comparado com os de uma série de outros sectores da economia, da energia ao turismo, do pequeno comércio à indústria. E, com ou sem RTP e RDP, trata-se igualmente de matéria de natureza económica, não de natureza política.
Para seu próprio bem, e para o bem dos seus consumidores, os media deixarão um dia de ser “especiais”. Nessa altura, serão menos regulados e cometerão talvez mais excessos. Mas serão também mais livres – e, inevitavelmente, deixar-se-ão influenciar menos pela lógica partidarista da nossa vida pública. Cabe a Jorge Lacão provar que se pode “evoluir na continuidade”. Uma gestão da pasta à Santos Silva apenas reforçará o problema.
CRÓNICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 29 de Outubro de 2009