A espécie humana, já se sabe, é invejosa – e quando um homem como José Rodrigues dos Santos se reclama escritor, por exemplo, essa inveja vem de imediato ao de cima. José Rodrigues dos Santos, o jornalista, pode escrever os livros que quiser. José Rodrigues dos Santos, o pivot de televisão, pode vender os exemplares que quiser. José Rodrigues dos Santos, o repórter de guerra, pode dedicar à escrita quanto do seu tempo livre quiser. O facto é que nunca passará disso: de um jornalista, de um repórter de guerra, de um pivot de televisão. Escritor, não será.
De forma que, quando José Rodrigues dos Santos arrancou com um novo programa de entrevistas na RTP-N, foi a isso que nos agarrámos. “Conversas de Escritores?” Portanto: conversas de “vários” escritores, ou “entre” escritores, pressupondo que José Rodrigues dos Santos também o é? “Que vaidoso”, suspirámos. Vaidoso e, aliás, ignorante, se em pleno Telejornal é capaz de antecipar a entrevista dessa mesmo noite com Hubert Reeves dizendo que se trata do “Carl Sagan da Europa”, quando Reeves é canadiano.
Tiro ao lado, como sempre. Pode-se gostar ou não de José Rodrigues dos Santos – o facto é que se trata de um escritor. Agora, é mais difícil de aceitar que o pivot do Telejornal use a antena desse Telejornal para promover um programa vocacionado para a deificação da sua pessoa que, entretanto, conseguiu garantir noutro canal do grupo. Principalmente quando esse grupo é público.
CRÍTICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 29 de Agosto de 2009