Há algo de constrangedor nisto de chegar ao século XXI e encontrar o wrestling a viver um dos seus melhores períodos de sempre. Como desporto, é uma tontice: uma abrutalhada coreografia levada a cabo por uma série de orangotangos que fingem andar à pancada, enquanto se esforçam por cumprir o plano onde se definiu quem ganha, quem perde e quantas bofetadas leva cada um. Como espectáculo, é pior ainda: uma paupérrima encenação protagonizada por uma série de péssimos actores incapazes de convencer quem quer que seja da autenticidade da sua luta.
E, no entanto, aí está ele, tão pujante como nos tempos de Tarzan Taborda: salas cheias, público delirante, mega produções, transmissão para os quatro cantos do mundo (incluindo Portugal, via Eurosport 2 e SporTV 3). Por causa da pancadaria? Em parte. Mas também, provavelmente, por causa da personalização de que foi alvo. Quem quer que vivesse na ilha Terceira dos anos 80 se lembra de ver wrestling no canal americano. Ora, nos anos 80, década de “A Fogueira das Vaidades, todos os lutadores eram máquinas (exactamente como os yuppies). Hoje, década de “Eu Sou a Charlote Simmons”, é tudo pessoal: todos os lutadores têm contas a ajustar com toda a gente – e as entrevistas, as conferências de imprensa e as apresentações dos combates são mais importantes do que a própria luta.
A única forma de explicar o wrestling é como um sinal dos tempos. E depois varrer tudo para debaixo do tapete.
CRÍTICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 31 de Julho de 2009