“Maddie”, o documentário com que a TVI transpôs para a televisão o livro “Maddie, A Verdade da Mentira”, de Gonçalo Amaral, abre um novo mercado na TV nacional. Outros documentários sobre assuntos de actualidade vêm sendo produzidos de há dez anos a esta parte, nomeadamente pela dupla Joaquim Vieira/Felícia Cabrita. Mas este é diferente.
Do ponto de vista jornalístico, tem limitações: abre pouco espaço (ou não abre espaço) ao contraditório. Do ponto de vista do espectáculo de TV, porém, chega onde nunca se chegara. A realização de Carlos Coelho da Silva é ágil, o guião de Nuno Ramos de Almeida é seguro – e a excelente direcção de actores faz o resto. É, a bem dizer, o nosso primeiro “Toda a Verdade”. Vai fazer escola. Só é preciso que apareçam mais casos – e, com a TVI, o mais fácil é aparecerem casos.
É como laboratório para a análise da exposição mediática, porém, que “Maddie” tem mais interesse. No essencial, tudo o que ali está já estava no livro, que vendeu milhares de exemplares e terá sido lido pelo menos por algumas centenas de pessoas. Desta vez, no entanto, a história chegou a 2,2 milhões. E uma boa parte delas, seguramente, acabou com a mesma pergunta que eu: “Como é possível que, com todo aquele meses, todos aqueles meios e todas aquelas convicções, a investigação não tenha conseguido sustentar devidamente uma tese para levar a tribunal?”
“Maddie” é uma lição sobre a Justiça e as suas limitações. E Gonçalo Amaral não sai airosamente da contenda.
CRÍTICA TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 15 de Abril de 2009