Hannah Montana: O Filme está, curiosamente, no extremo oposto de Hannah Montana, a série. Na televisão, Miley Cirus é uma raparigas igual às outras, mas é uma estrela. No cinema, Miley Cirus é uma estrela, mas é uma rapariga igual às outras. Numa adversativa bem feita, a ordem dos “adversos” faz toda a diferença. O filme, que por esta altura está em exibição um pouco por todos os cinemas nacionais, é melhor do que a série.
E não por causa da qualidade dos planos, das interpretações, dos décors, dos efeitos especiais, da iluminação. Hannah Montana: O Filme é melhor por causa do dilema em torno do qual gravita o argumento: uma jovem estrela é obrigada a regressar à cidadezinha rural de onde provém – e, em consequência disso, a redescobrir a vida com outro tipo de liberdade. Moralista? Claro. E porque não? Neste mundo, a ciência explica-nos como fazer, mas não nos diz “se” devemos fazê-lo – e, já não tendo Deus, não nos resta outra arma se não a moral.
O mais curioso, porém, é que esta reordenação de valores em Hannah Montana ocorra precisamente agora, numa altura em que a série se encontra já com apenas cerca de 45% das audiências que chegou a ter. No ano passado, quando a resposta do público ainda era outra, o filme-concerto Hannah Montana e Miley Cyrus: O Melhor dos Dois Mundos revelou-se bem menos preocupado ou comprometido. Na ficção para crianças, é assim mesmo: primeiro a diversão, depois a obrigação. O que, diga-se, está certíssimo.
CRÍTICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 25 de Julho de 2009