A reacção de José Aberto Carvalho a qualquer tipo de sugestão de que a RTP é manipulada pelo poder tem muito de tranquilizador. Basta perceber uma simples suspeita que o director de informação da estação pública, como o próprio provou mais uma vez durante a conferência realizada no auditório da Fundação das Comunicações para a comemoração dos 50 anos do Telejornal, arregaça as mangas, endurece a voz e dispara sobre o desconfiado. “Hoje o director de uma estação de televisão não pode ser pressionado pelo poder político”, garante – e, ao assistir à energia da sua reacção, todos nós ficamos a saber que, sempre que se verificar uma manobra de pressão, ele fará todos os possíveis para resistir a ela.
Mas eu ficaria ainda mais descansado se ouvisse José Alberto Carvalho acrescentar as palavras: “apesar das muitas tentativas que o poder faz todos os dias.” Porque o faz. Porque sempre o fez. E porque sempre o fará enquanto houver televisão pública – esteja quem estiver à frente da informação da RTP, esteja quem estiver no poder. Mais do que (ou para além de) ser da própria natureza do homem, isso é da própria natureza do serviço público. Seria especialmente tranquilizador se o director de informação dos canais públicos, mesmo sem denunciar os seus autores (hoje virão todos do mesmo quadrante, mas noutras alturas vieram e virão de outros), reconhecesse a existência de pressões. E apenas podemos desejar que ele ao menos as reconheça para si próprio.
CRÓNICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 21 de Outubro de 2009